Piegas
É verdade que passou muito, muito, da hora, que eu já deveria ter te dito isso há muito tempo.
Mas eu não consegui.
Pela minha falta de coragem eu não consegui. Pela minha falta de força eu não consegui. Pela minha falta. Pelo meu excesso. Paixão e virtude. Minha paixão é o Medo.
Tudo isso é claro , é claro, é verdade. Nada menos, nada mais. É metade dos motivos da insônia, das silenciosas confissões ao travesseiro. A outra metade, você faz parte dela.
Não é a primeira paixão da humanidade, não será a última, não será desprovida de clichê como são todas as outras. Não é diferente de todas as outras. Pra mim, é muito diferente. Das minhas, dos outros.
Passou muito da hora. Eu queria que você fosse atropelada, definitavamente. Você foi, mas não foi. Se tivesse ido, eu não precisaria contar. Eu preciso falar. Você sempre volta, e eu tenho que encarar o fato de eu nunca ter falado, deu precisar falar, da minha falta, do meu excesso.
Donde vem esse medo? Disse alguém, e eu já repeti, que todos os medos são reflexo daquele medo mais primordial, que é o medo do desaparecimento. Hoje eu não sei, acho que vou ter que chmar essa rosa de outro nome, ela tem outro cheiro. Tem um cheiro conhecido, um cheiro do saber.
Eu sei.
O medo de falar é quele medo da rejeição. Eu tenho medo do mas, porque eu sei que é mas.
Agora você sabe, e eu sei que você sabe desde antes. Também sabe que eu sei.
É esse o medo que fez passar da hora e fica o não dito pelo subentendido: Eu sim, mas você não.