3/17/2007

Discurso

Subiu ao palanque, ajeitou a gravata, o microfone. Forçou uma pequena tosse, pigarreou.

- O povo brasileiro se encontra encurralado. Há muito a vida foi deixada de lado, e a degeneração dos valores morais é contínua. Vivemos num estado de guerra civil, e o poder público, que deveria ser defensor da população honesta, é cada vez mais condescendente com os bandidos. É hora de assumirmos o que já sabemos há muito, mas não temos coragem de admitir: nossa situação social é delicada, e a volta à ordem só é possível por meio de medidas radicas - muito mais radicais do que nós estamos acostumados a aceitar, tanto como seres individuais quanto como povo.

A derrocada do estado de paz relativa para o estado de caos começou quando começamos a aceitar como normal aquilo que é doentio. Então, o primeiro passo para a volta ao estado de paz só pode ser um esforço para localizar e diagnosticar tudo o que é doentio, para então tratar o câncer social corretamente. Assim como é com nosso corpo, os agentes do câncer social precisam ser identificados e estirpados.

Pensem comigo, meus caros cidadãos. É possível que nós, homens honestos e de bem, sejamos obrigados a nos trancar em casa com medo do que pode acontecer a nós e nossa família, enquanto os bandidos andam soltos, cometem todo o tipo de contravenção, todo o tipo de imoralidade, tudo em plena luz do dia, andando de cabeça erguida e peito aberto? Não, de jeito nenhum! Faz-se necessário que haja uma inversão, e que eles venham a temer!

Eu pergunto: o que pode amedontrar tais seres? Ora, todos vocês sabem que só a morte faz com que eles recuem, com que eles pensem duas vezes antes de recorrer em suas iniqüidades. É justamente aí que eu proponho nossa radicalização: bandido bom é bandido morto! Não temos outra opção: o que está em risco, para além de nossas vidas individuais (que jã são importantes em si mesmas), é a nossa dignidade, o nosso modo de vida, a continuidade de nossos costumes e tradições.

Agora que já sabemos o que fazer, voltemos ao primeiro item. Vamos identificar os agentes da doença social para que possamos aplicar com segurança o nosso método. O assaltante, o traficante, o pirata, o assassino, o estuprador, toda essa laia, creio que não seja difícil classificá-los. Portanto, não me deterei neste ponto; é de comum-acordo que os classificamos como agentes da doença. Bandido bom é bandido morto. Vamos nos deter sobre aqueles que são tão nocivos quanto estes, mas por preconceito, por piedade ou por ignorância até agora não foram assim classificados.

Estou me referindo àqueles que não cometem o crime diretamente, mas possibilitam que eles continuem ocorrendo. Foi a falta de punimento adequado a esses agentes secundários um dos principais fatores que nos encaminharam a essa situação de caos. O traficante só pode vender para o usuário. Ora, se o usuário permite que o tráfico continue, também ele é um bandido, e bandido bom é bandido morto. As prostitutas, os travestis, os homossexuais, e todos os doentes degenerados desse tipo influem sobre a atual exacerbação do sexo, fomentam o estupro e a contaminação de nossas crianças. Também são bandidos, e bandido bom é bandido morto. As organizações que defendem os Direitos Humanos permitem que os criminosos continuem existindo. Também são bandidos, portanto. E bandido bom, é bandido morto. O advogado que leva celular pra dentro da cadeia, o advogado que defende o direito do ladrão, também é bandido. O político corrupto, o fiscal que faz vista grossa, o comerciante que engana o cliente, também são bandidos. E bandido bom é bandido morto. Todo aquele que de alguma forma atenta contra a continuidade da vida é bandido. Mesmo aquele que não o faz diretamente, mas em seu discurso incita, ou mesmo abre precedente, por mais suave que seja, não passa ele também de um criminoso. E bandido bom é bandido morto.

Então, tirou um revólver do paletó e estourou os próprios miolos. O público do gargarejo, ainda respingado com seu sangue, elogiou-o pela coerência.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

eu gostei bastante desse, mas nem tenho muito o q comentar.
é o q me falta sempre... palavrinhas bonitinhas!

=*

9:30 AM  
Blogger Emil said...

As palavras são bonitas, fique tranquila. Faz parte da expressão e do conteúdo delas!

12:28 PM  
Anonymous Anônimo said...

quack?

12:31 PM  
Blogger Sartorato said...

Virou chat?

6:01 PM  
Blogger Emil said...

A gente tem que prestigiar quem comenta!

2:10 PM  

Postar um comentário

<< Home