Sobre os atuais título, nome e endereço
O medo disso começou mais ou menos quando eu nasci, se me lembro bem. Mas a confirmação começou com um comentário sobre a atual geração e terminou numa conversa de bar quase duas da manhã por aí.
O fato é que somos uma geração intermediária. Nada de pontual, exato contra o que protestar. Claro que sempre há as Alcas, a absurdidade midiática, a política externa norte-americana, o preço do bolinho, o et cetera. Mas nada disso nos oprime aberta e claramente, nada disso nos é diametralmente oposto, e não há nada que seja desde que nossos pais derrubaram a ditadura e fincaram nas alturas a bandeira que carregavam.
Também não somos os contestadores; esse título cai melhor para aqueles entre nossos pais e nós, os caras que estavam no auge em noventa. Gostaríamos de ser como esses nossos entrepassados, mas eles destruiram os valores que os que vieram antes tentaram nos legar. Se a geração anterior é a do entusiasmo, esta é a da melancolia - tristeza de ver que o ideal não casa com o plano físico. Os irmãos mais velhos chutaram o pedestal, derrubaram o mastro e pularam sobre a bandeira ao som de guitarras distorcidas.
Nós, que já havíamos nascido, tomamos consicência de que também particicipávamos da festa tarde demais, e não sobrou um pedaço de pano para pisotear. Abrimos os olhos e estávamos cercados cães mortos. Não há resto de bandeira para derrubar, não há fazenda o bastante para costurar outra bandeira.
Deixaremos, para nossos sobrinhos ou para nossos filhos - ainda há muita névoa à frente dos olhos - , os baús - uns grandes, uns pequenos, uns fundos, outros rasos - , e caberá a eles retirar de dentro os pedaços de tecidos e costurar a próxima colcha que subirá ao mastro.
1 Comments:
tá, e nem todos os pais derrubaram a ditadura. O meu, por exemplo, era funcinário registrado de metalúrgica, que ganhava bem o suficiente pra comprar seu carro 0 e construir sua casa! A revolta só surge quando pessoas, além de conscientes, são incomodadas, será que isso acontecerá com seus netos?
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